Estudo pioneiro resulta em avanços no campo da medicina regenerativa
Pesquisa coordenada por professor do IFS releva como otimizar protocolos de tratamento com a luz vermelha
Por Carole Ferreira da Cruz
Estudo pioneiro da Física Médica resulta em avanços significativos no campo da medicina regenerativa e no desenvolvimento de terapias baseadas na fotobiomodulação, conhecida como luz vermelha. A pesquisa, coordenada pelo professor do Instituto Federal de Sergipe (IFS) – Campus Estância, Marcelo Victor Pires de Sousa, acaba de ser publicada na renomada revista científica Small, especializada em nanociência, nanotecnologia e considerada fator de impacto 13.
Após desenvolver a tecnologia fotocêuticos durante o doutorado na USP/Harvard para combater dores e inflamações musculoesqueléticas, articulares e de tendões e para tratar diversas doenças, Marcelo de Sousa segue estudando tratamentos baseados na emissão de luz infravermelha com a parceria de uma equipe multidisciplinar de pesquisadores do IFS, Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade de Fortaleza e outras instituições brasileiras.
A fase atual do estudo revelou novos insights sobre como a absorção de luz vermelha afeta as propriedades biomecânicas e proteômicas de diferentes tipos de células. Os pesquisadores combinam técnicas avançadas de microscopia de força atômica e análise proteômica para explorar os efeitos da fotobiomodulação em células da pele, tecido conjuntivo e osso. Desse modo, é possível otimizar protocolos de tratamento para condições como cicatrização de feridas, regeneração óssea e até mesmo doenças neurodegenerativas.
Terapias mais eficazes
A fotobiomodulação tem sido amplamente estudada por seu potencial no tratamento de diversas condições médicas, desde dor crônica até regeneração tecidual. No entanto, os mecanismos celulares subjacentes a esses efeitos ainda não são totalmente compreendidos. A etapa atual da pesquisa avança nessa direção ao demonstrar como a luz vermelha modula a elasticidade e a fluidez celular por meio da remodelação do citoesqueleto, com implicações importantes para o desenvolvimento de terapias mais eficazes.
A publicação numa revista de reconhecimento internacional coloca o IFS no mapa global da pesquisa científica e tecnológica, além de destacar o papel das instituições públicas brasileiras no avanço da ciência. "O estudo não só reforça a importância da pesquisa em fotobiomodulação, mas também evidencia IFS e o estado de Sergipe no cenário científico internacional. É um orgulho para nossa instituição contribuir com descobertas que podem impactar positivamente a saúde e o bem-estar das pessoas", afirmou Marcelo de Sousa.
O estudo utilizou equipamentos de fotobiomodulação desenvolvidos pela startup Bright Photomedicine, fundada pelo professor. Essa tecnologia foi fundamental para garantir a precisão e a eficácia dos experimentos, de modo a permitir que os pesquisadores controlassem com exatidão a intensidade e a duração da luz vermelha aplicada às células. “A tecnologia que desenvolvemos permitiu explorar de forma inédita como a luz vermelha influencia as propriedades mecânicas das células, abrindo caminho para novas aplicações terapêuticas", destacou.
A fase atual da pesquisa sobre a fotobiomodulação com luz vermelha tem revelado que o tratamento é capaz de alter o funcionamento celular e a produção de várias substâncias - muitas delas com potencial terapêutico -, além de modificar as propriedades morfológicas das células. Esse tipo de conhecimento aprofundado permite melhores tratamentos, terapias mais personalizadas e o direcionamento para novos protocolos terapêuticos.
Próximos passos
Os pesquisadores planejam expandir o estudo para investigar os efeitos da luz vermelha em outros tipos de células e tecidos, além de explorar como diferentes comprimentos de onda e intensidades de luz podem ser utilizados para modular respostas celulares específicas. Essas descobertas têm impacto direto na qualidade de vida das pessoas e permitem criar tratamentos mais eficientes, seguros e personalizados.
“Muitos pacientes não obtem melhora com tratamentos convencionais como farmacológico, fisioterapia e até cirurgias. Outro problema são os efeitos colaterais. Os tratamentos com fotobiomodulação não são invasivos e não têm efeito colateral. Por isso, os pacientes aderem bastante ao tratamento e conseguem ótimos resultados”, explicou o professor Marcelo de Sousa.
Principais descobertas
O estudo investigou três tipos de células: queratinócitos (HACAT), fibroblastos (L929) e osteoblastos (OFCOLII), que foram expostas a diferentes intensidades e durações de luz vermelha. Os resultados mostraram que:
1. Fibroblastos: exibiram aumento na fluidez e redução na rigidez, além de maior motilidade, sugerindo que essas células se tornam mais móveis e flexíveis após a exposição à luz vermelha. Isso pode ser crucial para processos de cicatrização e regeneração tecidual.
2. Queratinócitos: apresentaram respostas dependentes da intensidade da luz, com aumento na rigidez em certas condições, o que pode estar relacionado à sua função de barreira protetora na pele.
3. Osteoblastos: mostraram pouca sensibilidade à luz vermelha, mantendo suas propriedades biomecânicas praticamente inalteradas, o que reflete sua função especializada na formação óssea.
Sobre a publicação
O estudo publicado na revista Small, intitulado "Biomechanical Insights into the Proteomic Profiling of Cells in Response to Red Light Absorption", foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), CAPES, FUNCAP e Fundação Edson Queiroz.
Redes Sociais