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Tecnologia e Sustentabilidade

Floresta e sensibilidade científica levam pesquisas sergipanas à COP30 em Belém

Escrito por GERALDO BULHOES BITTENCOURT FILHO | Publicado: Sexta, 14 de Novembro de 2025, 10h50

ecotechEducação ambiental e aprimoramento mamográfico integram a presença do Instituto Federal de Sergipe na conferência

No dia 12 de novembro, quando o fluxo constante de visitantes se misturava ao som de apresentações culturais e debates acadêmicos na Green Zone da COP30, realizada em Belém do Pará, o Instituto Federal de Sergipe (IFS) ocupou um dos espaços dedicados à apresentação de projetos da Rede Federal. O lançamento do volume 2 da publicação Ações de Sustentabilidade na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica reuniu representantes de diferentes regiões do país e destacou iniciativas selecionadas entre mais de 300 propostas enviadas ao edital nacional de sustentabilidade lançado pela Rede Federal em março de 2024 . Entre os 57 trabalhos selecionados estavam dois produzidos no IFS: a pesquisa que aprimora imagens mamográficas com ferramentas matemáticas e o Ecotech, projeto educacional voltado à conservação de ecossistemas e ao fortalecimento da relação entre estudantes, território e cultura ambiental. Embora distintos em forma e propósito, ambos revelam como ciência, sensibilidade social e compromisso com a Agenda 2030 convergem para colocar Sergipe no centro de debates internacionais sobre vida, saúde e sustentabilidade.

Quem circulava entre os estandes percebia o contraste complementar entre as duas iniciativas. De um lado, o estudo conduzido no Campus Lagarto apresentava gráficos, imagens e resultados que mostravam a eficiência de algoritmos aplicados a 125 mamografias digitais. Do outro, o Ecotech levava relatos de trilhas interpretativas, experiências formativas com jovens, ações comunitárias e práticas de educação ambiental desenvolvidas a partir das paisagens sergipanas, sobretudo do litoral sul e das áreas de Mata Atlântica. A COP30, dedicada a discutir urgências climáticas e caminhos para a vida em escala planetária, serviu como palco para mostrar que sustentabilidade não se limita à ideia de preservação ambiental: ela atravessa o corpo, o território e a tecnologia, e envolve tanto a saúde humana quanto a capacidade de compreender e proteger os ecossistemas locais.

Dados que aproximam saúde e ambiente

cancer de mama

A pesquisa de melhoramento de imagens mamográficas, desenvolvida no Campus Lagarto com apoio do Campus Estância, manipulou digitalmente 125 exames a partir de técnicas matemáticas destinadas a reduzir ruídos, reforçar contrastes e preservar estruturas sensíveis à leitura radiológica. Foram empregados a Transformada Wavelet de Haar e filtros de difusão anisotrópica, entre eles um modelo desenvolvido por pesquisadores brasileiros que se destaca por suavizar irregularidades sem comprometer os contornos essenciais de nódulos e microcalcificações. O resultado mostrou que 87,5% das imagens apresentaram melhora perceptível para fins diagnósticos, dado que ganha ainda mais relevância quando considerado que, segundo estudos reconhecidos internacionalmente, entre 10% e 30% dos achados mamográficos podem passar despercebidos na prática clínica.

Hamona Novaes dos Santos, uma das autoras do estudo, relatou que o objetivo foi demonstrar como o processamento matemático pode ampliar a qualidade da detecção precoce do câncer de mama. Ela explicou que as técnicas aplicadas permitem refinar detalhes da mama que, muitas vezes, ficam ocultos por ruídos característicos da captura digital, bem como observou que a prática reforça, para estudantes envolvidos na pesquisa, a dimensão concreta de ferramentas abstratas aprendidas em sala de aula. Para ela, o impacto vai além dos números: “A precisão pode significar diferença entre tratamento precoce e evolução silenciosa da doença”, afirmou, reforçando que a detecção antecipada é uma das estratégias mais efetivas de saúde pública.

Em sequência, André Luiz Nogueira detalhou os aspectos técnicos do trabalho, destacando que o desenvolvimento considerou a viabilidade de replicação da metodologia em diferentes sistemas. O pesquisador apontou que a escolha pelos filtros de difusão anisotrópica ocorre justamente pela capacidade de preservar bordas, fundamentais para a interpretação clínica. “A maior contribuição do estudo é mostrar que a matemática, quando bem aplicada, melhora a qualidade de um exame sem alterar sua natureza”, comentou. Ele acrescentou que a experiência permitiu aos estudantes contato direto com tecnologias de ponta utilizadas no processamento de imagens médicas e afirmou que o caráter acessível da proposta pode colaborar para processos de democratização tecnológica na saúde.

Educação ambiental como território vivo

ecotech 2Enquanto o estudo de mamografia dialoga diretamente com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável voltado à saúde e ao bem-estar, o Ecotech, criado no Campus Estância e atualmente ativo também em Aracaju, se relaciona a outro eixo da Agenda 2030: a educação de qualidade e a preservação de ecossistemas terrestres. O projeto mobiliza trilhas interpretativas, aprendizagem baseada no lugar, práticas de sensibilização ambiental e vivências ao ar livre articuladas a escolas públicas e comunidades tradicionais. Atuando em áreas como manguezais, restingas, rios e serras, integra estudantes do ensino médio à observação direta do território, ao reconhecimento de espécies nativas e à valorização cultural dos ambientes que sustentam modos de vida regionais.

Ao ser selecionado para compor a publicação lançada na COP30, no eixo Educação, o Ecotech ampliou sua visibilidade ao apresentar um conjunto de ações que conjuga educação ambiental, protagonismo juvenil e cooperação institucional. Entre seus destaques está a atuação no Prêmio Criativos Escola +Natureza, promovido pelo Instituto Alana, por meio da qual levará três estudantes e a coordenadora à conferência representando práticas vinculadas ao bioma Mata Atlântica. O projeto também integra atividades de pesquisa e extensão, organiza bancos de sementes, promove expedições formativas e desenvolve ações de restauração ambiental em conjunto com escolas e comunidades.

Para além de seus impactos locais, os dois projetos selecionados também dialogam com dados internacionais que justificam sua relevância. A Organização Mundial da Saúde estima que o câncer de mama permanece como o tipo de neoplasia mais incidente entre mulheres em todo o mundo, e que, quando diagnosticado em estágio inicial, pode atingir até 95% de chance de cura. Tecnologias de melhoramento de imagens, aplicáveis mesmo em serviços de saúde com infraestrutura limitada, tornam-se parte de estratégias globais para reduzir desigualdades no acesso ao diagnóstico. Já no campo ambiental, relatórios da UNESCO e de redes internacionais de educação para sustentabilidade reforçam que práticas educativas conectadas ao território, ao clima e à biodiversidade estão entre as formas mais eficazes de engajar comunidades em ações de conservação e mitigação de impactos ambientais. 

Assim, a presença simultânea do IFS na publicação lançada na COP30 traduz uma visão ampliada de sustentabilidade: nela cabem tanto pixels de exames que revelam detalhes ocultos quanto trilhas que aprofundam a relação entre jovens e os ecossistemas que atravessam seu cotidiano. São frentes distintas, mas convergentes no propósito de transformar realidades.

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