Estudantes podem descobrir no SUAP se têm direito ao Pé-de-Meia
Iniciativa pioneira do IFS integra tecnologia acadêmica e inclusão social em benefício da permanência escolar
No início de setembro, ao acessar o Sistema Unificado de Administração Pública (SUAP) para verificar notas e frequências, os estudantes do Instituto Federal de Sergipe (IFS) se depararam com uma novidade: a informação sobre a própria elegibilidade ao Programa Pé-de-Meia, política federal que pode assegurar até R$ 9.200 ao longo do ensino médio. Para muitos, o simples gesto de consultar o sistema habitual transformou uma obrigação legal em experiência imediata e transparente, dispensando a necessidade de migrar para outros aplicativos ou depender de canais externos. A novidade, ainda inédita em instituições federais, posiciona o IFS na vanguarda nacional da integração tecnológica aplicada à educação.
O programa Pé-de-Meia foi instituído em 2024 e é destinado a jovens matriculados no ensino médio público cujas famílias estejam inscritas no Cadastro Único (CadÚnico). O benefício é composto por três modalidades: um incentivo de matrícula pago a cada início de ano letivo, depósitos mensais de R$ 200 condicionados à frequência mínima de 80% e uma bonificação ao final de cada ano concluído. No total, um estudante pode receber até R$ 9.200 ao longo do curso. Os pagamentos são realizados pela Caixa Econômica Federal e os dados de beneficiários estão disponíveis no Portal da Transparência, reforçando o caráter público e verificável da política.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a evasão escolar no ensino médio ainda é um desafio: entre 2019 e 2022, mais de 500 mil jovens abandonaram essa etapa, em grande parte por fatores socioeconômicos. Ao associar incentivo financeiro e acompanhamento digital, o Pé-de-Meia busca oferecer apoio material e também reduzir desigualdades que afetam diretamente a permanência.
Foi diante desse cenário que Alysson Barreto, pró-reitor de ensino do IFS, avaliou a decisão de incluir a consulta no SUAP. Ele considera que a política é estratégica para enfrentar a evasão e vê a iniciativa como uma forma de reforçar esse objetivo. “O programa representa uma política pública estratégica para garantir a permanência dos estudantes no ensino médio. Ao trazer a consulta de elegibilidade para dentro do SUAP, o IFS reafirma seu compromisso com a democratização do acesso e com a redução da evasão escolar”, afirmou, destacando que se trata de uma ação pioneira que pode servir de inspiração a outras instituições.
Tecnologia integrada
O Ministério da Educação disponibiliza, em nível nacional, o aplicativo Jornada do Estudante como canal oficial de consulta ao benefício. O app integra dados acadêmicos e permite ao aluno verificar sua elegibilidade, além de acompanhar pagamentos e pendências. Embora eficiente, o software exige que o estudante mantenha múltiplos acessos e dependa de sistemas externos que nem sempre se comunicam de forma imediata com os registros institucionais. Essa fragmentação pode criar barreiras de usabilidade e dificultar o engajamento, especialmente entre jovens que já enfrentam restrições de acesso digital.
A solução encontrada pelo IFS simplifica esse processo. Raphael Silva Fontes, assessor de tecnologias educacionais, contou que a equipe buscou transformar uma obrigação legal em vivência intuitiva. Ele resume a ideia em poucas palavras: “Agora, o jovem que acessa o SUAP encontra, junto de suas notas e frequência, a informação crucial: se está ou não habilitado ao Pé-de-Meia. Essa integração é mais do que tecnologia; é inclusão social mediada por inovação”.
A simplicidade para o estudante não reflete a complexidade dos bastidores. Para que a informação apareça corretamente, há cruzamentos de dados entre os registros acadêmicos do IFS e os sistemas do MEC. Esse fluxo exige protocolos de consistência e revisão permanente, evitando falhas de elegibilidade. Célio Aguiar, chefe do Departamento de Gestão Acadêmica, comenta que a experiência do aluno é simples, mas sustentada por uma engrenagem invisível. “A informação de elegibilidade agora está a um clique do aluno, mas por trás desse clique há todo um trabalho de validação, cruzamento de dados e alinhamento com as comissões e públicos”, explicou.
A construção técnica também exigiu repensar o SUAP como plataforma escalável. Num sistema que atende milhares de acessos diários, era preciso garantir velocidade, estabilidade e compatibilidade com diferentes bases federais. Essa diretriz dialoga com as metas do Governo Federal para transformação digital, que defendem interoperabilidade entre sistemas e foco na experiência do cidadão.
Flávio Emannuel, analista de TI da área que integra a implantação de sistemas com o desenvolvimento e as operações de tecnologia, relembra que foi necessário desenhar serviços específicos para lidar com o volume de dados e assegurar integração contínua. “A entrega técnica envolveu pensar o SUAP como uma plataforma escalável e integrada. Desenvolvemos serviços específicos de importação e acompanhamento da elegibilidade estudantil. É uma solução construída com padrões de bigtech, mas voltada para a realidade educacional pública”, disse.
No campo social, a presença da informação no SUAP aproxima o estudante da gestão de seus direitos, tornando a consulta parte de sua rotina acadêmica. Isso se alinha ao princípio da lei que criou o Pé-de-Meia, de reduzir desigualdades de permanência escolar. Luciana Bittencourt, diretora de assistência estudantil, considera que o impacto é maior do que o recurso tecnológico em si. Para ela, a conquista está em colocar o aluno no centro da política educacional. “Ao simplificar o acesso à informação, damos autonomia ao aluno para acompanhar seus direitos e garantimos mais eficácia na gestão do programa”, avaliou a diretora, ressaltando que a novidade não está apenas na tela que o estudante acessa, mas no gesto simbólico de encontrar, lado a lado com suas notas e frequências, o direito de permanecer na escola.


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