O foguete subiu no Campus Propriá — e o conhecimento também
Na Olimpíada Brasileira de Foguetes, alunos aplicam, ao ar livre, conceitos de física e química com entusiasmo e participação ativa
"Quando o foguete decolou, eu não acreditava que fosse dar certo". O relato de Matheus Rocha resume não somente a tensão do momento, mas o impacto da atividade fora da sala de aula tradicional. No dia 14 de maio, seis estudantes do Instituto Federal de Sergipe (IFS), Campus Propriá, participaram da etapa prática da Olimpíada Brasileira de Foguetes (OBAFOG), realizada na parte externa da unidade. A construção e o lançamento dos protótipos mobilizaram dois grupos — um da turma de Informática e outro da turma de Agropecuária.
A Olimpíada Brasileira de Foguetes, anteriormente conhecida como Mostra Brasileira de Foguetes (MOBFOG), é organizada anualmente desde 1998 pela Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB). Voltada a estudantes do ensino fundamental, médio e técnico de todo o país, a competição busca promover o interesse pelas ciências espaciais por meio da construção e lançamento de foguetes com materiais acessíveis e fundamentação científica.
Além de incentivar a aplicação prática de conhecimentos aquiridos nos cursos, a OBAFOG também valoriza o trabalho em equipe, a resolução de problemas e o desenvolvimento de pensamento crítico. Alunos com bom desempenho podem ser convidados a participar de eventos científicos nacionais e internacionais, ampliando suas experiências e oportunidades acadêmicas.
A atividade integrou saberes de química e física de maneira aplicada, promovendo uma conexão direta entre conteúdo teórico e experimentação. No campo da química, os alunos manipularam vinagre e bicarbonato de sódio, que, ao reagirem, liberam dióxido de carbono (CO₂) — gás responsável por impulsionar os foguetes. A reação também produz água e acetato de sódio, além de provocar uma diminuição de temperatura, característica das reações endotérmicas. Todo o procedimento foi acompanhado de cuidados com a segurança, com uso de equipamentos de proteção e realização em área aberta.
Segundo Thamilla Verçosa, professora de química, a condução da prática foi orientada passo a passo, permitindo que os estudantes compreendessem com clareza o fenômeno. “Foi explicado brevemente que a reação entre vinagre e bicarbonato libera um gás (CO₂), que faz o foguete se mover. Em seguida, os alunos montaram os foguetes sob orientação”, contou. Ela destacou que os participantes também perceberam a queda de temperatura durante a mistura: “Eles viram o gás sendo liberado, principalmente quando o foguete foi lançado, e notaram que a mistura ficava mais fria”.
Na sequência, a física entrou em cena. Os alunos aprenderam a importância do formato do foguete e da angulação no momento do lançamento. Trabalharam conceitos de aerodinâmica, simetria e estabilidade, além do lançamento oblíquo e movimento parabólico. O ângulo ideal, conforme orientado, foi de 45°, por garantir maior alcance horizontal.
Essa abordagem prática foi fundamental para internalizar os conhecimentos, como explica Gabriel Ramos, professor de física: “Destacamos os conceitos envolvidos no lançamento do foguete, cujo posicionamento foi baseado na teoria do lançamento oblíquo”. Ele acrescenta que a construção exigiu atenção a detalhes técnicos: “O foguete deve ser simétrico, com aletas estabilizadoras e um cone fino, com o objetivo de reduzir os efeitos da resistência do ar”.
Com os olhos no céu e a mente na ciência
A experiência foi marcante também para os alunos. Matheus Rocha, da turma de Agropecuária, afirmou ter aprendido mais ao participar da atividade do que em diversas aulas teóricas. “Foi algo ótimo ter participado mais uma vez das olimpíadas. Isso me ajudou a adquirir novos conhecimentos sobre o assunto”, disse. Ele destacou ter compreendido melhor “como funciona a reação em química e como a angulação, peso e vento influenciam na hora do lançamento voltado para a parte da física”. Sobre o ponto alto da vivência, não hesitou: “Achava que não iria dar certo, por conta do imprevisto que tivemos com a base”.
Essa percepção é compartilhada por Thamilla, que avalia que a proposta despertou mais que interesse científico. “Eles demonstraram maior entusiasmo, engajamento e curiosidade. Ademais, foi possível favorecer a participação ativa, a colaboração entre os colegas e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais”.
Agora, os professores aguardam o resultado da primeira etapa da olimpíada, mas já sinalizam que há grandes chances de os grupos serem convidados para fases seguintes ou eventos semelhantes. Para os alunos, entretanto, o principal lançamento não foi o dos foguetes, mas o de uma nova forma de olhar para o conhecimento — com os olhos no céu e os pés firmes na ciência.
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