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Ciência Rural

Oficina do IFS aposta em fitoterapia para cuidar de animais

Escrito por GERALDO BULHOES BITTENCOURT FILHO | Publicado: Segunda, 26 de Mai de 2025, 11h00

Oficina 5No Campus Propriá, alunos aprendem a preparar pomadas e tinturas com plantas medicinais para uso agropecuário, valorizando saberes populares e ampliando sua formação técnica

A aluna Maria Eduarda girava o frasco com as tinturas recém-preparadas enquanto comentava com os colegas que, embora já conhecesse a babosa, não imaginava que ela pudesse tratar feridas de bovinos. “Nem sempre o meio mais caro é o que mais funciona”, disse, com um sorriso que misturava surpresa e convicção. A frase, simples, traduz o espírito da oficina “Elaboração de produtos fitoterápicos para uso na produção animal”, realizada no dia 13 de maio no Instituto Federal de Sergipe – Campus Propriá, em alusão ao Dia do Zootecnista.

O evento reuniu alunos do curso técnico em Agropecuária para uma experiência em que ciência, tradição e prática convergiram. Ministrada pelo coordenador do curso, Tomás Guilherme Pereira da Silva, a atividade teve como foco o uso de plantas medicinais como alternativa sustentável e acessível na zootecnia. Durante quatro horas, os participantes manipularam espécies como aroeira, angico, babosa e jucá/pau-ferro para produzir pomadas e tinturas com aplicação prática no manejo animal.

Oficina 3A iniciativa é sustentada por fundamentos científicos sólidos, mas também por um esforço de reconectar os estudantes às práticas ancestrais do campo. Tomás Guilherme explicou que os princípios que embasam o uso fitoterápico incluem sustentabilidade, economicidade e valorização de saberes populares. “Essa prática permite desenvolver novas tecnologias, mas sem romper com o que já foi testado e aprovado ao longo de gerações”, afirmou.

O potencial dessas soluções já vem sendo observado em campo. Em diferentes sistemas produtivos, extratos vegetais têm substituído produtos sintéticos convencionais — como tinturas de iodo, iodo glicerinado e pomadas químicas — com eficiência equivalente. “O que vimos na oficina foi justamente o reconhecimento de que há alternativas viáveis, mais baratas e menos agressivas ao meio ambiente”, disse Tomás Guilherme.

Oficina 1Mais do que isso, a oficina deu início a um movimento de continuidade: um projeto de extensão será implantado para levar essas práticas às comunidades do Baixo São Francisco, com envolvimento direto de alunos, professores e da população local. Os próprios produtos desenvolvidos durante a oficina já começaram a ser aplicados: foram doados aos tratadores de animais do campus, para uso no rebanho bovino da instituição.

A abordagem também dialoga com a estrutura curricular do curso técnico. Tomás Guilherme destaca que o Projeto Pedagógico do Curso (PPC) prevê a realização de projetos integradores, articulando saberes da produção vegetal, animal e da saúde. “Essa oficina conectou tudo isso com sentido e aplicabilidade. E abriu caminho para práticas pedagógicas mais orgânicas, onde teoria e prática caminham juntas”, apontou.

Estímulo que germina

principalDo ponto de vista dos alunos, o engajamento foi notável. Praticamente todos os matriculados participaram, demonstrando interesse e envolvimento. Para muitos, a experiência foi reveladora. Maria Eduarda conta que vai aplicar o que aprendeu em casa e ensinar aos pais e avós: “Agora sei que é possível fazer esses produtos e usá-los nos animais sem depender só de medicamentos comprados”.

Experiências como essa têm ressonância em todo o país. Segundo a Embrapa, o uso de fitoterápicos na agropecuária brasileira vem crescendo, especialmente entre pequenos produtores. Um estudo da entidade mostrou que práticas de etnoveterinária — que unem ciência e tradição — têm sido integradas com sucesso em propriedades familiares, promovendo o bem-estar animal e reduzindo custos com medicamentos industriais. Em muitos casos, a substituição parcial ou total de insumos sintéticos resultou na diminuição de até 30% nos gastos com saúde animal, além de menor risco de resíduos químicos na carne e no leite.

Para Tomás Guilherme, uma das maiores contribuições da oficina foi mostrar que o conhecimento técnico pode — e deve — dialogar com práticas acessíveis e de baixo custo, sobretudo em regiões rurais. Ele reforçou que os estudantes saíram não apenas com novos aprendizados, mas também com autonomia para aplicar e compartilhar esses saberes em seus contextos familiares e comunitários. “O objetivo foi incentivar os participantes a se tornarem multiplicadores do emprego de tais tecnologias”, afirmou o coordenador, destacando que a proposta é fortalecer a agropecuária de base familiar com soluções sustentáveis, replicáveis e cientificamente validadas.

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